Suspeito de campanha de ódio contra cearense Maria da Penha é
identificado no RN
Esta é a segunda fase da operação Echo Chamber, do MPCE, que
determinou ainda a suspensão do documentário "A investigação Paralela: o
caso de Maria da Penha"
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE)
cumpriu, nesta terça-feira (15), um mandado de busca e apreensão pessoal
e domiciliar em Natal, no Rio Grande do Norte, contra um dos suspeitos de
envolvimento na campanha de ódio promovida
nas redes sociais contra Maria da Penha.
Esta é a segunda fase da operação “Echo Chamber”. A 9ª Vara
Criminal de Fortaleza determinou ainda a suspensão de todos os
episódios do documentário “A investigação Paralela: o caso de Maria da Penha”,
produzido pela empresa Brasil Paralelo, pelo prazo de 90 dias.
Conforme o MPCE, foram apreendidos na operação aparelhos
eletrônicos e documentos, que seguirão para análise do órgão. A ação se
debruça nas investigações sobre uma campanha sistemática de ódio disseminada
nas redes sociais contra Maria da Penha Maia Fernandes, símbolo da luta contra
a violência doméstica, que dá nome à Lei nº 11.340/2006. O ex-marido tentou
matá-la duas vezes e foi condenado na Justiça.
"As investigações tiveram início a partir de
manifestações recorrentes de desinformação, conteúdo calunioso e ataques
misóginos, promovidos por meio de canais digitais, com o objetivo de
descredibilizar a história da vítima, questionar decisão judicial transitada em
julgado e promover o descrédito da legislação de proteção à mulher", diz
trecho do documento.
Durante o cumprimento do mandado, os aparelhos eletrônicos
apreendidos revelaram conversas com conteúdos de estratégias organizadas para
invalidar a criação da Lei Maria da Penha, "desacreditando a própria
vítima e a norma, na tentativa de retirá-la do ordenamento jurídico ou, ao
menos, mudar o nome da lei".
As investigações também apontaram que os envolvidos buscaram
obter vantagem econômica a partir da exploração dessas narrativas, valendo-se
da repercussão midiática e do engajamento em redes sociais para alcançar
interesses próprios.
Suspensão de documentário
A ação suspendeu ainda todos os episódios do
documentário “A investigação Paralela: o caso de Maria da Penha”, produzido
pela empresa Brasil Paralelo. O MPCE justificou a retirada devido a
"acusações infundadas de fraude processual", assim como o "uso
de documento falso para subsidiar os argumentos".
"O conteúdo, disseminado por empresa privada de
comunicação e perfis em redes sociais, busca gerar dúvida sobre a veracidade
dos fatos e sobre a legitimidade do julgamento ocorrido, apesar de ampla
comprovação judicial e pericial em sentido contrário", diz o órgão.
O Ministério afirma que Maria da Penha foi vítima de
perseguição virtual (cyberstalking), caracterizada por "condutas
coordenadas com o intuito de prejudicar a imagem", além do crime de
falsificação de documento público.
Entenda o caso
No primeiro semestre de 2024, Maria da Penha foi vítima de
uma série de ataques de membros de comunidades digitais que disseminam o ódio
às mulheres. O MPCE acionou o Núcleo de Investigação Criminal – NUINC e o
Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NUAVV) para iniciar as
investigações. À época, Maria da Penha foi encaminhada ao Programa de Proteção
aos Defensores de Direitos Humanos.
Segundo as investigações realizadas pelo Ministério Público,
a campanha atinge diretamente a honra da ativista, atribuindo-lhe conteúdo
ofensivo e de natureza caluniosa, consistindo em possíveis delitos de
intimidação sistemática virtual (“cyberbullying”), perseguição
(“stalking”/”cyberstalking”), ameaça, dentre outros.
Durante as diligências, foi identificado um perfil, com
significativo número de seguidores, que vem produzindo conteúdos de natureza
misógina (ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres ou meninas), deturpando
informações e proferindo ataques contra Maria da Penha e a Lei 11.340/2006.
O Ministério Público também identificou o deslocamento do
principal investigado à antiga residência de Maria da Penha, no bairro Papicu,
em Fortaleza, local em que a tentativa de homicídio contra ela ocorreu em
1983.
Operação 'Echo Chamber'
Deflagrada no dia 14 de dezembro de 2024 pelo MP,
a primeira fase da operação "Echo Chamber" cumpriu mandados
de buscas e apreensões.
O Poder Judiciário determinou, ainda, a suspensão do perfil
de um suspeito na plataforma Instagram pelo período de 90 dias; a proibição
dele se aproximar ou manter contato, pessoalmente ou por meio de pessoa
interposta, com Maria da Penha e suas filhas, bem como de se aproximar das
residências delas; como também o impedimento de se ausentar da comarca onde
reside, por mais de sete dias, sem autorização judicial, assim como do país.
Fonte: Diário Nordeste
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