Redescobrindo Fortaleza a pé
No Dia Mundial Sem Carro, o repórter Emmanuel Montenegro andou em Fortaleza a pé e em transporte públicoPara celebrar o Dia Mundial Sem Carro, comemorado neste domingo, aventurei-me por cerca de oito horas por Fortaleza a pé e utilizando o transporte público. Parti de casa às 8h25min da última quarta-feira, 18, na rua Nunes Valente, no bairro Meireles. Na rua Costa Barros, peguei a topic 53, com destino à Praça do Ferreira, para entrevistar o pesquisador, educador e turismólogo, Gerson Linhares. Ele é o idealizador do projeto Fortaleza a Pé, que há mais de 18 anos resgata a história da cidade para seus habitantes e turistas.
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O passeio cultural pelo Centro histórico, realizado quase diariamente, também levanta a questão da mobilidade sustentável, ao propor o deslocamento dos participantes a pé pela cidade. No percurso até o local da entrevista, diante da alta velocidade do motorista, tive de agarrar com as duas mãos o assento e firmar os pés para não cair no chão do veículo. Quinze minutos depois, desci em uma parada na rua Bárbara de Alencar, seguindo em direção à praça, onde encontrei o repórter fotográfico Evilázio Bezerra e o entrevistado.
Andar a pé no Centro não é tarefa das mais fáceis. Além do sol inclemente e da escassez de árvores, a toda hora, nós, pedestres, somos obrigados a diminuir o passo ou parar por algum motivo, dentre os mais prováveis: calçadas desniveladas, cheias de buracos, com tabuleiros de roupas de lojistas e camelôs, grande fluxo de veículos e transeuntes.
“Falta planejamento urbano e informação por parte dos governos, que deveriam investir em campanhas educativas. E não existe isso”, protesta Gerson, que faz crítica à prioridade que é dada ao transporte privado em detrimento do transporte público em Fortaleza. Ele observa ainda que, na região central, prédios antigos estão sendo demolidos para darem lugar a estacionamentos, enquanto as linhas de ônibus circulam às margens do miolo, carente de locais para embarque e desembarque de passageiros.
Bezerra de Menezes
Depois do Centro, sigo a pé no sentido da Bezerra de Menezes, avenida que é considerada modelo de mobilidade na Capital. No trajeto, passo pelo calçadão da Liberato Barroso, tomado pelo comércio ambulante. Na falta de sinalização adequada e na pressa, pedestres aproveitam o congestionamento de veículos para atravessar de um lado para o outro da via, se arriscando fora da faixa em manobras radicais. A Bezerra de Menezes tem calçadas padronizadas e com acessibilidade, classificadas como as melhores do País, em levantamento feito pelo portal Mobilize em 12 cidades. A avenida também conta com uma ciclovia no canteiro central.
Após a Bezerra, sigo de ônibus para a rua Ana Bilhar, que ganhou uma ciclofaixa. E, depois, para a avenida Beira Mar, onde muitos costumam caminhar no início da manhã e no fim da tarde. Às 17h10min, termino a jornada no calçadão. Exausto, mas contente por não ter desistido ao primeiro obstáculo que encontrei durante todo o percurso por Fortaleza.
Histórias
Na caminhada pelo Centro, conversei com pedestres, como a carteira Eunicia Feitosa, que percorre uma média de oito quilômetros por dia. Ela reclama das barreiras nas calçadas e da violência. Já o catador de lixo Valderi, 57, que mora no Alto Alegre e leva cerca de duas horas para chegar ao Centro, reclama da lotação dos ônibus. Ele queixa-se também da falta de educação das pessoas que jogam o lixo nas ruas.
Pouco antes das 14 horas, parei por meia hora para almoçar no Mercado São Sebastião. Às 15h30min, embarquei na linha 079-Antônio Bezerra/Náutico com destino à rua Ana Bilhar. O trânsito estava razoável e o percurso durou meia hora. Encontrei com a repórter fotográfica Tatiana Fortes e flagramos o desrespeito de motoristas transitando na nova faixa exclusiva para os ciclistas.
Fonte: O povo