quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Triplicam licenças por uso de drogas

            
A quantidade de benefícios concedidos no Ceará relacionados ao uso de drogas psicoativas saltou de 270 em 2009 para 802 no ano passado, o que representa crescimento de 197%. Índice maior que o nacional, de 50%

Cresce o número de usuários de drogas beneficiados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). No Ceará, a quantidade de auxílios-doenças relacionados ao uso de drogas psicoativas no período de 2009 a 2013 triplicou. Foram 270 benefícios em 2009, saltando para 802 em 2013 (197%). Índice superior ao nacional, que passou de 32.824, em 2009, para 49.276, em 2013 (50%). A média é de 160 novos benefícios concedidos, por ano, no Ceará.

Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas corresponderam a 71,4% dos auxílios concedidos pelo INSS no ano passado no Ceará. Em seguida, benefícios decorrentes do uso de álcool (16,8%) e cocaína (10,2%). O restante (1,6%) refere-se ao uso de opiáceos, canabinóides, sedativos e hipnóticos, outros estimulantes (inclusive a cafeína) e alucinógenos.

Foram concedidos, ainda, 807 auxílios por episódios depressivos, 492 por transtorno depressivo recorrente, sete por intoxicação por narcóticos e psicodislépticos, dois por intoxicação por drogas psicotrópicas não classificadas em outra parte, dois por intoxicação por drogas que afetam principalmente o sistema nervoso autônomo e três pelo efeito tóxico do álcool.

Antônio Gonçalo Soares, chefe do Serviço de Saúde do Trabalhador da Gerência Executiva do INSS em Fortaleza, comenta que o aumento é reflexo da dinâmica estressante da vida urbana e do maior uso de drogas lícitas e ilícitas. Trata-se de um benefício recorrente, prova disso é que se tornaram rotina perícias médicas domiciliares, em hospitais ou clínicas de recuperação.

Perfil

Soares explica que o foco da perícia é determinar se a pessoa tem capacidade de trabalhar. Geralmente, são sujeitos ainda na fase ativa, na faixa etária entre 20 e 40 anos.

Dependendo da droga utilizada e do tempo de internamento em clínicas de recuperação, esclarece que o afastamento chega a cinco meses, até que a pessoa possa voltar às atividades laborais.

"As que mais incapacitam são as drogas ilícitas. O crack está muito presente, mas geralmente não é a única droga que a pessoa utiliza", ressalta.

As duas doenças que mais geram solicitações de auxílio no INSS são as psiquiátricas de uma forma geral e as geradas por traumas, a exemplo de acidentes de carro e moto. Entretanto, em muitos casos, a classificação fica encoberta por uma doença traumática, apesar de ser ocasionada pelo uso de álcool e drogas.

Na visão de Antônio Mourão Cavalcante, professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), vários fatores contribuem para esta realidade. Houve um acréscimo no uso de drogas, o fato de haver uma maior aceitação social com o usuário, o que faz com que as pessoas assumam ter problemas dessa natureza, e o uso do crack, que cria uma indisponibilidade social rápida. Situação diferente do álcool, uma vez que o indivíduo bebe e tem condições de trabalhar no dia seguinte.

Apesar dos dados alarmantes, complementa o especialista, praticamente nada vem sendo feito por parte do poder público no combate às drogas, a não ser algumas reações reacionais em resposta às denúncias feitas pela imprensa e pela sociedade.

Cavalcante defende que quatro caminhos têm de ser perseguidos para combater as drogas. O primeiro e mais importante é a prevenção. Evitar que a pessoa se envolva com as drogas. O segundo eixo é o tratamento, que não se resume à internação. "Esse é um equívoco das pessoas. Dependendo do caso é que se vai estabelecer ou não o internamento e, na maioria dos casos, não tem necessidade", salienta.

O terceiro eixo, de responsabilidade dos órgãos da polícia e da Justiça, é não permitir que haja a venda de drogas. Por último a reinserção, voltado para aqueles que já tiveram problemas com drogas e querem sair, mas precisam de ajuda para se reconstituir. Quando não encontram ajuda, muitos deles irão voltar a usar drogas. "É preciso unir esses quatro eixos para ter uma política consistente de combate às drogas, menos que isso é falácia", reforça o especialista.

Número de vagas vai aumentar de 60 para 200

Em resposta ao cenário, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) garante que a partir do próximo mês de março irá aumentar de 60 para 200 o número de vagas nas instituições de acolhimento de pessoas dependentes de álcool, crack e outras drogas. São elas: Associação Comunidade Terapêutica Grão de Mostarda, Atos Centro Terapêutico, Centro de Recuperação Leão de Judá, Fazenda da Esperança São Bento, Associação de Assistência Social Catarina de Laboure, Associação Aliança de Misericórdia, Casa de Recuperação Monte Sião, Comunidade Terapêutica Instituto Volta ao Caminho, Associação Shalom de Promoção Humana e Centro de Recuperação Rosas de Sarom.

Diário

O nome das instituições que concorreram às 200 vagas foi publicado no último dia 31 de janeiro, conforme previa o edital divulgado no Diário Oficial do Estado em novembro de 2012.

Além das 200 vagas, o governo afirma que oferece assistência aos dependentes de drogas no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, na Messejana, que dispõe de 20 leitos masculinos. Há ainda o Centro de Convivência Elo de Vida para dependentes químicos, com capacidade para 30 pacientes/dia, que faz acompanhamento psicológico, atividades físicas e cursos.
Luana Lima
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste

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