Áreas de risco terão mapeamento
A ideia é identificar as particularidades de cada um destes pontos e agir com as intervenções necessárias
As 89 áreas de risco atualmente existentes em Fortaleza estão sendo mapeadas e irão compor, até o fim do ano, um levantamento indicando a situação de cada uma. O objetivo, segundo a Prefeitura, é identificar as particularidades de cada um destes pontos e agir com as intervenções necessárias.
Em toda a cidade, são cerca de 22 mil famílias vivendo em condições precárias e torcendo para a próxima chuva não levar tudo o que possuem. Apesar do problema ser generalizado, a maior parte está em áreas das Regionais III, V e VI, de acordo com a Defesa Civil do Município.
Para o coordenador Especial de Proteção e Defesa Civil, Cristiano Ferrer, áreas de risco são aquelas em que a população está sujeita a alagamentos, inundações, deslizamentos e soterramentos iminentes. "Geralmente, essas populações estão nas proximidades dos recursos hídricos, encostas de morros ou em cima deles", explicou.
Ferrer informou que o georreferenciamento deverá ser concluído até dezembro e apresentará alternativas para o socorro dos necessitados. O mapeamento, entretanto, não deverá expor os moradores atendidos. "Nosso cuidado é para que o local não seja visto simplesmente como uma área de risco, mas como uma localidade, onde se apresentam as possibilidades de atendimento quanto aos riscos", disse.
"Elencamos o que acontece nessas áreas identificadas e definimos pequenas intervenções necessárias a cada uma", completou. Com isso, garante o coordenador, a própria população contribui para reduzir os riscos. "Uma nova metodologia de limpeza criada pela Prefeitura teve efeito um satisfatório e sem reincidência", exemplificou.
De acordo com Ferrer, a maioria dos alagamentos é causada pela destinação indevida dada ao lixo, que também é um transmissor de doenças. Outro problema enfrentado pelo órgão é o retorno de famílias a áreas desocupadas, como o que aconteceu no último dia 16 nas margens do Rio Maranguapinho no trecho do Antônio Bezerra. De acordo com a Secretaria das Cidades, responsável pela obra de urbanização do Rio Maranguapinho, a intervenção exige a retirada de 12.275 famílias da área. Destas, 5.873 serão indenizadas, das quais 66,25% já receberam o dinheiro, e 6.402 serão reassentadas, sendo que 47,58% já foram levadas a novas residências.
Para acolher as pessoas retiradas, seis residenciais já foram construídos, e sete estão em execução. A Secretaria informou ainda que, para o controle de cheias, uma barragem já foi construída e 29,3% dos 22,2 Km da dragagem já foram feitos. O projeto prevê ainda a construção de via paisagística de 44,5 Km, atualmente com 10 Km prontos (22,5%).
Áreas históricas
Os relatos do dia a dia das famílias que vivem nessas localidades revelam as dificuldades. Nas proximidades do Rio Maranguapinho, que historicamente tem as margens permeadas de ocupações irregulares, na área situada no bairro Antônio Bezerra a condição, no decorrer dos anos, melhorou, devido o projeto de requalificação. Porém, para os moradores do lado do bairro Genibaú, que ainda aguardam a conclusão do processo de desapropriação, as mazelas seguem as mesmas. "Moro há 18 anos na área de risco. Cansei de ver a água ficar na minha cintura, me desesperar. Mas eu só saio daqui quando tiver a garantia que vou para uma outra casa aqui no mesmo bairro", argumenta a dona de casa Lúcia de Fátima Costa.
Famílias relatam como é viver em alerta
Começa a chuviscar e as ações são instintivas: olho no rio que ameaça transbordar e na coberta do casebre que pode cair, mãos nas tábuas que serão a barreira na porta e braços para juntar as crianças e separar os alimentos e móveis a serem salvos. Se a chuva adentra a noite, é sabido: haverá revezamento na hora de dormir. É preciso velar o sono para que enchentes e desabamentos não surpreendam.
Embora em pontos distintos da Capital e relativamente distantes, não foram poucas as vezes que os moradores do Morro de Santa Terezinha e das margens do Riacho Maceió, Rio Cocó e Maranguapinho viram a água "chegar na cintura" e levar os poucos pertences.
"Agora está é pior porque não tem mais saída para água, está tudo tampado lá em baixo. Quando chove é dia de correria", conta o vigilante Jorge Alves Rosário, morador da Rua Manjar, no Morro de Santa Terezinha. Há dez anos, fevereiro, março e abril são os piores meses da vida de Jorge, pois a quadra chuvosa é sempre devastadora para ele e a família, de mais cinco pessoas.
Na mesma rua, mas na área alta, o problema que aflige a dona de casa Natália Rodrigues dos Santos é o volume de água que escorre pelas escadarias do morro. De tão forte, "é capaz de levar uma pessoa". A residência de três cômodos é dividida com seis pessoas, sendo três crianças. O perigo chega pela porta da frente e pelo quintal, já que o mesmo é situado na encosta do morro, e a areia desaba a cada chuva.
Acesso
Na Comunidade do Saporé, às margens do Riacho Maceió, no Mucuripe, até o acesso é complicado. Em determinado trecho, o espaço entre o casebre e o barranco que desemboca no Riacho é de cerca de 30 cm. "No começo do ano encheu e invadiu as casas. Agora andaram limpando e está mais tranquilo. Mas se chove, ninguém dorme", diz a dona de casa Maria Sueli Evangelista.
No Passaré, o rio que corta a cidade segue ameaçando famílias. Com as ocupações que não só permanecem, mas crescem às margens do Cocó, as condições de risco não se alteram. Na Rua Canamari, onde a quintal das casas margeiam o Rio Cocó, a tensão é contínua segundo a dona de casa, Lucilene Quirino.
Germano Ribeiro/ Thatiany Nascimento
Repórteres
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Fonte: Diário do Nordeste
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