Por R$ 1,6 bilhão, banco chinês leva 74% do Bicbanco
O China Construction Bank (CCB) é o segundo maior banco comercial do país chinês e conta com R$ 5,5 tri de ativos
Fortaleza/São Paulo. Um dos primeiros bancos fundados no Ceará, em Juazeiro do Norte, o Bicbanco anunciou ontem a venda de seu controle para o China Construction Bank (CCB) por R$ 1,62 bilhão. Desde a criação, em 1938, a instituição financeira brasileira teve o foco voltado ao segmento de pequenas e médias empresas.
Segundo últimos dados divulgados, o Bicbanco é o 11º em operações de crédito entre os bancos privados brasileiros Foto: Carol Domingues
O CCB, segundo maior banco comercial na China - com 14.859 trilhões de yuan (cerca de R$ 5,5 trilhões) em ativos totais e empréstimos de 8,095 trilhões de yuan (de cerca de R$ 3 trilhões) - comprará o equivalente a 73,96% do capital total do Bicbanco das mãos da família cearense Bezerra de Menezes e passará a controlar a instituição. As ações preferenciais ou ordinárias foram vendidas ao preço de R$ 8,9017 a unidade. O fato relevante ainda explicita: o negócio "irá demarcar, para o CCB, o início das suas operações diretas no Brasil. Prevê-se que (o Bicbanco) continue a operar como banco comercial, com foco no segmento de mercado de médio porte". "A transação com o CCB representa um grande e natural passo para o Bicbanco. Com a conclusão da transação, o banco estará melhor equipado para atender seus diversos clientes, dando-lhes acesso a uma plataforma mais ampla de produtos e serviços no Brasil e internacionalmente", disse o CEO da instituição cearense, José Bezerra de Menezes, que passa a ser acionista minoritário no Bicbanco.
Negócio dissipa rumores
A troca de controle no Bicbanco deve dissipar temores sobre a solidez financeira do banco, segundo especialistas do setor. A instituição brasileira teve sua nota de crédito rebaixada pela agência Moody´s e viu o valor dos seus bônus externos derreter. A desvalorização foi tanta que o próprio banco recomprou parte dos títulos.
Depois de fechar o negócio com o CEO do banco brasileiro, José Bezerra de Menezes, o presidente da instituição chinesa, HongzhangWang disse que o negócio deve promover relação mais forte entre Brasil e China Foto: Divulgação
O Bicbanco, atualmente, é o 11º em operações de crédito entre os bancos privados no Brasil. Tem cerca de R$ 17 bilhões em ativos e carteira de crédito de R$ 11,61 bilhões, segundo dados de junho. O índice de Basileia, que mede quanto o banco pode emprestar sem comprometer capital, fechou junho em 18,5%, acima dos 11% mínimos exigidos pelo Banco Central.
´Ponte entre China e Brasil´
Com ações negociadas nas bolsas de Hong Kong e Xangai, o CBB atua na área de empréstimos para infraestrutura, financiamentos imobiliários e cartões bancários. Tem mais de 14 mil filiais na China e o controle acionário do Bicbanco marca o início das operações dele no Brasil. O CBB ainda possui filiais em Hong Kong, Cingapura, Frankfurt, Johannesburg, Tóquio, Seul, Cidade de Ho Chi Minh, Nova Iorque, Sydney, Melbourne e Taipé. "Essa transação caracteriza uma situação em que ambos os lados ganham. Realizada a aquisição, grandes oportunidades de desenvolvimento emergirão. Esperamos construir uma ponte entre a China e o Brasil e promover ativamente uma relação bilateral mais forte, estimulando as interações econômicas e comerciais", disse o presidente do CBB, Hongzhang Wang.
Fac-símile da coluna do jornalista Egídio Serpa, que antecipou com exclusividade o interesse do CBB pelo Bicbanco na edição de 30 de setembro último
Preço aos controladores
O preço a ser pago aos controladores - que pode sofrer ajuste - representa um prêmio de 18,7% sobre o valor de fechamento das ações preferenciais do Bicbanco na bolsa paulista de ontem.
Os papéis dessa classe fecharam o dia valendo R$ 7,50 na Bovespa, com valorização de 1,35% na sessão. Os rumores sobre a venda do Bicbanco para a instituição chinesa fizeram as ações do Bicbanco chegarem a subir mais de 5% nas vésperas do negócio.
O CCB enviará à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em até 30 dias contados a partir da data de fechamento, um pedido de Oferta Pública de Aquisição (OPA) para os papéis do Bicbanco detidos por minoritários.
Reorganização societária
A operação ainda prevê a reorganização societária do Bicbanco e suas acionistas diretas: Gemini Holding, BIC Corretora de Câmbio e Valores, e Primus Holding, sendo que esta última detém 100% do capital da BIC Corretora. As ações do banco que pertencem à corretora serão transferidas para a Gemini, e as ações de emissão da BIC Corretora serão transferidas para pessoas físicas que fazem parte do grupo de controle da companhia.
Com isso, a BIC Corretora não será adquirida pelo CCB. O plano prevê ainda o encerramento da Gemini e da Primus, que serão consolidadas na companhia.
A transferência do controle do Bicbanco ao CCB ainda depende de aprovação do Banco Central, de decreto presidencial, das autoridades regulatórias chinesas e de autoridades bancárias das ilhas Cayman, informou o Bicbanco.
Histórico
Criado em 1938, o Bicbanco nasceu sob a alcunha de Cooperativa de Crédito do Juazeiro , fomentando negócios dos cooperados da região do Cariri cearense. Em 1948, passou ao controle dos Bezerra de Menezes e a se chamar Banco do Juazeiro.
Na década de 1970, os controladores promoveram a incorporação do Banco Industrial do Cariri (70) e do Banco dos Proprietários (72). Foi neste período também que mudou de sede de Juazeiro do Norte para Fortaleza e teve a razão social alterada para Banco Industrial do Ceará (BIC).
Em 1982, o Bicbanco inaugurou a primeira agência em São Paulo, na época onde mais agências foram abertas no País.
No início dos anos de 1990, precisamente em 1992, o nome Bicbanco foi consolidado e o conceito de multiplicidade foi incorporado pelo grupo liderado pelos Bezerra de Menezes. Assim, nasceram as coligadas BIC Corretora de Câmbio, BIC Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários e BIC Arrendamento Mercantil.
Já nos anos 2000, a sede do Bicbanco saiu de Fortaleza e foi para São Paulo (2002). Em seguida (2004), abre a primeira agência no exterior, nas Ilhas Cayman.
ARMANDO DE OLIVEIRA LIMAREPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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