Povo sul-africano reverencia líder Nelson Mandela
O sepultamento do ex-presidente contará com a presença de dezenas de chefes de Estado e governo
Johannesburgo. Milhares de sul-africanos se reúnem desde a madrugada de ontem em diversos pontos do país em memória ao ex-presidente Nelson Mandela, que morreu na noite de ontem aos 95 anos. O ambiente do luto é de celebração pela vida do primeiro mandatário do país após o regime do apartheid.
"Madiba", que será enterrado no próximo dia 15, ficou marcado por ter unido povos negros e brancos, inclusive na hora d e sua morte. Velório começa na próxima terça-feira, com uma missa solene, no Soccer Citty, em Johannesburgo FOTO: REUTERS
No bairro de Houghton, em Johannesburgo, centenas de pessoas colocaram velas e flores na frente da casa onde morreu o líder negro. O ambiente era de celebração, com gritos contra a segregação racial ou em homenagem a ele, cantados em coro pela multidão: "Viva Mandela!" ou "Longa vida a Mandela!"
O corpo do ex-presidente foi retirado do local por volta das 3h locais (23h em Brasília) e levado para o hospital militar de Pretória, onde será preparado para o funeral. No local, outro grupo também gritou palavras e expressões de agradecimento.
A unidade de saúde teve a segurança reforçada. Os restos mortais do ex-presidente deverão ficar na cidade por três dias, antes de serem levados para Johannesburgo e para Qunu, aldeia natal de Mandela e onde o corpo será enterrado.
O clima de homenagem festiva também se repete na rua onde o ex-presidente morou no Soweto, gueto negro de Johannesburgo. A Vilakazi Street, que foi fechada pelas autoridades locais, recebeu velas e flores dos moradores da região, em sua maioria jovens, que elogiavam o ícone contra a luta racista.
Alguns deles levavam camisas e os rostos pintados com as cores do Congresso Nacional Africano, partido que foi liderado por Mandela e é o mesmo do atual presidente, Jacob Zuma. Um grupo cantava em zulu: "É o soldado de Umkhonto e não há ninguém como ele".
O jornal "The Star", um dos principais do país, o chamou de "herói da humanidade" por ser o ídolo de toda a população sul-africana por seu papel decisivo pelo fim do apartheid.
Em culto realizado ontem, o arcebispo emérito da Cidade do Cabo e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Desmond Tutu, pediu aos sul-africanos a manutenção da união entre os povos que foi defendida por Nelson Mandela. "Ao longo de 24 anos de desde sua libertação, Madiba nos ensinou como viver juntos e acreditar em nós mesmos e em cada um", afirmou Tutu, que criticou os que acreditam na entrada em um novo conflito entre negros e brancos após a morte do líder negro. "Sugerir que a África do Sul entrará em chamas é não acreditar nos sul-africanos e no legado de Madiba. O sol vai nascer amanhã, e depois...Não vai parecer tão brilhante como ontem, mas a vida segue".
Funerais
Mandela será enterrado dia 15 de dezembro, disse o atual mandatário, Jacob Zuma. Os eventos públicos e o velório do ex-presidente começarão na próxima terça-feira, com uma missa solene no estádio Soccer City, em Johannesburgo. O sepultamento de Mandela será um dos maiores funerais do mundo e deverá contar com a presença de dezenas de chefes de Estado e governo, além de personalidades esportivas, da música e do cinema e de milhares de sul-africanos.
A expectativa é que o número de estadistas e governantes seja próximo ao do velório de João Paulo II, em 2005, que teve a presença de cinco reis, seis rainhas e 70 presidentes. A presidente Dilma Rousseff ira à cerimônia. Além dela, são esperados o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o príncipe Charles e o premiê britânico David Cameron.
Dilma decreta luto e irá a funeral
Brasília. A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias no Brasil em função da morte do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela.
A presidente Dilma Rousseff estará presente no velório de Nelson Mandela FOTO: FUTURA PRESS
A assessoria de imprensa da Presidência confirmou que a presidente Dilma irá participar do funeral do líder sul-africano. A data de partida ainda não está definida, mas ela participará da cerimônia no sábado da próxima semana (14). A data foi reservada aos chefes de Estado, pelo protocolo sul-africano.
Os bastidores e plenários da Câmara e do Senado foram tomados ontem por discursos de pesar pela morte de Nelson Mandela. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou nota lembrando que o líder sul-africano marcou a trajetória com a defesa da liberdade e dos direitos humanos em todo o mundo.
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, publicou no Twitter nota em homenagem ao líder. "Mandela ensinou ao mundo a tolerância como maior virtude. Livre ou perseguido, a manteve como sentimento de vida. Terá uma homenagem emocionante", destacou. No plenário, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) disse que Mandela é um símbolo da história do mundo. "E os símbolos são eternos. Eles não se destroem". Na Câmara, deputados se revezaram nos microfones para lembrar importantes fatos que marcaram a vida de Mandela, apontado como o maior responsável pelo fim do regime do apartheid.
Comitê Nobel destaca pacifismo
Noruega. O Comitê Nobel norueguês prestou homenagem ontem ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, considerando-o “um dos maiores nomes da longa história dos prêmios Nobel da Paz”. Mandela dividiu o Nobel da Paz, em 1993, com o então presidente sul-africano, Frederik De Klerk, pelos esforços na reconciliação após décadas de apartheid (regime segregacionista combatido por Mandela).
“Seu trabalho encerra uma mensagem ainda atual para todos os que têm responsabilidades em conflitos aparentemente insolúveis. Até os conflitos mais 'amargos' podem ser resolvidos por meios pacíficos”, destacou o comitê Nobel em nota.
Em Lisboa, a associação portuguesa SOS Racismo, criada em 1990, agradeceu a Mandela por sua “decisiva contribuição na luta contra o racismo e na afirmação do princípio da igualdade e da dignidade humana”. A SOS Racismo destacou que a luta contra o racismo e a defesa dos direitos humanos perderam uma de suas mais importantes figuras.
Fonte: Diário do Nordeste
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