De acertos e erros
No afunilamento da Série B, analistas comentam as trajetórias de Icasa e Ceará na competição nacional
A 32º rodada da Série B foi de sentimentos opostos por parte de Ceará e Icasa, os dois representantes cearenses no torneio nacional. Se para o Verdão do Cariri a vitória de 1 a 0 sobre o Figueirense no Romeirão levou à 5ª colocação com 50 pontos, a apenas três não só do G-4, mas do 3º colocado Sport, que tem 53; por outro, complicou bastante a situação do Ceará, derrotado por 1 a 0 para o América/RN, fora de casa.
Restando seis rodadas para o fim da competição, o Icasa atingiu o objetivo de permanecer na Segundona e, agora, luta para entrar no G-4. Já o Ceará lamenta não ter reagido algumas rodadas antes, mas ainda não jogou a toalha fotos: Cid Barbosa/Kid Júnior
Com 47 pontos e a seis do G-4, o Vovô, hoje, em 9º lugar, precisará realizar uma campanha quase perfeita na reta final a apenas seis rodadas do fim, se quiser conquistar o acesso. O clube teria de vencer, no mínimo, cinco jogos e ainda contar com tropeços dos adversários diretos. Isso porque o Vovô está em desvantagem no número de vitórias e não poderia ficar empatado em pontos com nenhum dos sete adversários diretos. Portanto, tirar seis pontos de diferença não seria suficiente, e sim sete.
O Icasa tem 50 pontos. As chances são maiores. O time chegou a entrar temporariamente no G-4 antes do desfecho da roda passada. Se vencer os compromissos no Romeirão e somar pontos fora, o Verdão poderá sonhar mais alto.
Avaliações
Para a crônica esportiva local, o Verdão do Cariri tem sido uma exceção à regra geral do futebol brasileiro. Uma surpresa boa.
"O Icasa soube trabalhar. Focou na permanência na Série B e acontece que o time encaixou tão bem que está com chances reais de subir. E, claro, foi uma surpresa boa para todo mundo", afirma o jornalista Paulo César Norões, editor de esportes da TV Verdes Mares.
No confronto direto entre as duas equipes, o Icasa venceu em Juazeiro por 1 a 0. Na volta, o Vovô devolveu a derrota com o mesmo placar FOTO: BRUNO GOMES
Ele ressalta o bom trabalho dos dirigentes e elege os destaques na campanha da equipe. "Passa muito pela atitude firme da diretoria do clube. Na chegada do Sidney Moraes, ele passou muita pressão. Mostrou muita serenidade e, com o respaldo da direção, foi premiado. Foi coerente, disciplinador e obstinado quando quis bancar alguma coisa que não parecia correta à primeira vista. Acertou e teve humildade quando precisou voltar atrás em algumas tentativas. Foi uma baita surpresa", revela.
Norões também aponta o melhor jogador do time da região do Cariri, na opinião dele. "Dentro de campo, muitos se destacaram. Mas, pela regularidade, fico com o lateral Neilson. Diferente dos outros, que tiveram altos e baixos, ele foi bem sempre".
Para o comentarista da TV Diário e da Verdinha 810, Wilton Bezerra, surpreender é um verbo que faz parte dos 50 anos de história do clube. "Eu vi o Icasa surgir. O Alviverde nasceu vocacionado para o sucesso. A forma do time de surpreender não é nenhuma novidade. É claro que o exemplo do Icasa não é uma praxe no futebol brasileiro: fazer um bom time com pequeno investimento", observa.
Para Bezerra, que é da região do Cariri, o time está conseguindo subverter a lógica do futebol. "É muito difícil fazer previsões sobre o Icasa. Quando ele perde jogadores importantes, por corte ou contusão, e resiste a tudo isso, foge um pouco da realidade. Como Juazeiro do Norte se trata de uma cidade de crença nos milagres e de forte sentimento de religiosidade, sou obrigado a acreditar no acesso, mesmo sendo um cronista pessimista por excelência", explica, apostando que é possível o acesso.
Ceará
Para o jornalista Tom Barros, colunista do Diário do Nordeste e apresentador do Debate Bola, da TV Diário, a campanha do 1º turno comprometeu a chegada do Ceará ao G-4.
"O Ceará demorou a corrigir seu rumo na Série B ao pouco acumular pontos com outros treinadores (Leandro Campos e Sérgio Guedes). Quando corrigiu, trazendo o Sérgio Soares, reagiu, tornou possível a chegada ao G-4, mas quando afunila a competição e todos os jogos viram decisões, fica difícil jogar no limite, com todas as partidas sem margem de erro. A equipe chegou a ter a melhor campanha no returno, mas não houve equilíbrio suficiente na hora de decidir, de entrar no G-4. O Ceará perdeu quatro chances de chegar lá, exatamente nos quatro últimos jogos. Por isso a possibilidade de sucesso, restando seis jogos, é pequena".
Erro na contratação
Seguindo raciocínio semelhante ao de Tom Barros, o jornalista Mário Kempes, criador do Blog do Kempes, afirma que os pontos desperdiçados sob o comando de Sérgio Guedes estão fazendo falta ao Vovô. "A contratação e o comando dos dez jogos com o ex-técnico Sérgio Guedes foram decisivos para o Ceará estar nessa situação. Um erro até admitido pelo próprio Evandro Leitão. Se o Sérgio Soares tivesse sido contratado à época dos 12 pontos conquistados em 30 possíveis pelo seu antecessor, o time poderia ter ganho ao menos 18. E são justamente esses seis pontos que hoje fazem muita falta ao Ceará. Mas tudo pode mudar em caso de vitória contra o Atlético/GO. Depois, é decidir em casa com Avaí e Sport".
ILO SANTIAGO JR./VLADIMIR MARQUESSUBEDITOR/REPÓRTER
ANÁLISE
A reação do Ceará foi tardia?
Se nas últimas seis rodadas o Ceará não conseguir os pontos suficientes para conquistar o acesso, a conta não virá para o técnico Sérgio Soares. Com ele, o Ceará tem a 2ª melhor campanha do returno com 24 pontos, dos 39 possíveis, o que equivale a 60% de aproveitamento. O grande problema do Ceará foi a campanha no 1º turno, somando apenas 23 pontos em 19 jogos. O aproveitamento só não foi inferior aos 40% porque o técnico Sérgio Soares dirigiu a equipe nos últimos três e conquistou cinco pontos.
Durante esse período, os ex-técnicos Leandro Campos e Sérgio Guedes não conseguiram fazer o Ceará jogar, com a equipe oscilando muito e chegando a correr risco de rebaixamento.
Com a chegada do técnico Sérgio Soares, a três rodadas do fim do 1º turno, a equipe se acertou jogando para frente e o clube voltou a sonhar com o acesso. Mas nas últimas quatro rodadas a equipe empatou três jogos e perdeu o último. Natural, em se tratando de Série B. Afinal, todos os times oscilam nessa competição e o Ceará de Soares não estaria imune a isso.
O problema maior foi que, para pagar o preço da campanha do 1º turno, o Ceará teve de correr riscos e ainda não pôde se dar o luxo de oscilar, ao contrário de seus rivais. Por isso, os últimos quatro tropeços podem ter sido fatais para suas pretensões de acesso, embora a chance ainda exista.
Vladimir MarquesRepórter
ANÁLISE
Eu boto fé em ver o Icasa na ‘A’
O Icasa já mostrou que o torcedor cearense deve botar fé nesta equipe. Nem o mais fiel romeiro de “Padim Ciço” imaginaria, no início de temporada, que o time da Terra da Fé estaria em tal confortável situação no campeonato, restando apenas seis jogos para o fim. O começo foi periclitante. De deixar até Padre Cícero – se vivo fosse – desconfiado. Passadas cinco rodadas, o Icasa já tinha acumulado três derrotas, um empate e apenas um triunfo na estreia. Foram quatro pontos ganhos em 15 disputados. Resultado: um fraco aproveitamento de 26%. O time passou seu pior momento na competição, ficando na zona de rebaixamento, em 17º lugar. A fórmula do melhor time cearense em competições nacionais na atualidade é simples. O povo do Ceará, em sua maioria, está acostumado a com pouco disponível fazer render o máximo possível, sobretudo o sertanejo. Este costuma superar os períodos de seca com a regra básica de gastar menos do que ganha. Multiplicar para depois dividir. Com o Icasa, é da mesma forma. Acostumado a um campeonato estadual deficitário financeiramente, que dá prejuízos, o Verdão faz sucesso na Segundona com uma das menores folhas salariais de todas as equipes concorrentes. São R$ 240 mil mensais. Por isso, é possível adaptar o “Eu Acredito” para o “Eu Boto Fé”, com uma pitada de sotaque bem cearense.
Ilo Santiago Jr.
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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