Para especialistas é necessário popularizar a mini e microgeração, como garantia de abastecimento
Conforme as resoluções normativas 482 (de 17 de abril de 2012) e 517 (de 11 de dezembro de 2012) da Aneel, a microgeração e a minigeração distribuída devem ter como fontes para a produção de eletricidade a energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada. Embora haja uma regulamentação e o Brasil seja rico nesses tipos de fontes, a micro e a minigeração ainda não deslancharam com força, embora não haja dúvidas entre os especialistas do setor de que isso irá ocorrer.
Para o cientista industrial e proprietário da Gram-Eollic, Fernando Ximenes, atualmente, o principal obstáculo para a maior adesão à microgeração e à minigeração é a falta de conhecimento dos consumidores. "O que falta, realmente, é a popularização. É preciso ser mais divulgado, as pessoas precisam entender que é algo viável, que não é caro, que é a garantia de abastecimento", destaca.
Segundo Ximenes, o governo brasileiro saiu na frente ao criar uma legislação sobre o assunto, considerada por ele como mais moderna que a existente em alguns países europeus. Agora, é preciso que os consumidores estejam mais atentos a essa nova possibilidade e mudem sua visão e postura diante da produção e do consumo de energia elétrica no País.
Meio ambiente
"Além da questão da macroeconomia, existe o lado ambiental. Hoje, as usinas térmicas estão todas ligadas. Temos que ter alternativas de gerar a nossa própria energia. O consumidor compra eletroeletrônicos, utiliza esses produtos, mas não tem a visão de produzir sua própria energia. Além de consumir os eletroeletrônicos, ele também tem que contribuir para a produção", enfatiza. "Há uma necessidade brasileira, pelo governo, que o povo produza sua própria energia", completa Ximenes.
Incentivos
É com base nessa necessidade de "desafogar" e transformar a matriz energética brasileira que o cientista acredita na breve aprovação de mais incentivos para a microgeração e minigeração distribuída no País.
Atualmente, além de ter garantido o próprio abastecimento de energia, de deixar de pagar por esse serviço fundamental, o consumidor que adere à microgeração ou à minigeração distribuída tem como incentivo o sistema de compensação.
Conforme explica a resolução 517 da Aneel, com o sistema de compensação de energia elétrica, "a energia ativa injetada por unidade consumidora com microgeração distribuída ou minigeração distribuída é cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica ativa dessa mesma unidade consumidora ou de outra unidade consumidora de mesma titularidade da unidade consumidora onde os créditos foram gerados, desde que possua o mesmo Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ) junto ao Ministério da Fazenda". A expectativa é de que outros incentivos sejam criados a partir do próximo ano.
"As prefeituras, os governos estaduais e o governo federal deverão incentivar a adesão. A banca estadual e o governo (do Ceará) já estudam incentivos fiscais", afirma Ximenes.
Frente parlamentar
No âmbito federal, uma das iniciativas nesse sentido será o lançamento, em fevereiro de 2014, em Brasília, da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Energia Alternativa, que será presidida pelo deputado federal Antonio Balhmann (PSB-CE).
"Atualmente, só existe a compensação de energia elétrica, mas acredito que em 2014 ou 2015 já será possível que os consumidores que aderirem à microgeração e à minigeração vendam o excedente da energia produzida por eles para as concessionárias de energia locais", finaliza o cientista industrial Fernando Ximenes. (DM)
Tributação e financiamento precisam ser definidos
Além da necessidade de ampliar a divulgação para fazer deslanchar a microgeração e da minigeração distribuída no País, o segmento, regulamentado há mais de um ano e meio, ainda precisa superar outros obstáculos. Entre eles, os principais são a indefinição sobre a tributação e o financiamento para a implantação dos projetos. Em abril deste ano, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) - que reúne secretários de Fazenda dos estados - determinou, por meio do Convênio ICMS 6, a incidência de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a geração fotovoltaica pelo consumidor no sistema de compensação de energia.
Conforme a medida do Confaz, o imposto incidirá sobre o total de energia que entra na instalação do consumidor, o que inclui a energia gerada pelo consumidor durante o dia e que é enviada por empréstimo para a distribuidora armazenar e devolver à noite. A decisão foi um balde de água fria sobre o segmento, uma vez que desestimula a instalação de sistemas fotovoltaicos, pois diminui a competitividade da geração distribuída. "A resolução 482 da Aneel foi revista, saiu a resolução 517, onde diz para combater isso (a tributação), que a tarifa vai ser zero para a micro e a minigeração, aí veio essa medida do Confaz. Minas Gerais e São Paulo já recorreram dessa medida e ganharam. Nós vamos ser o terceiro estado a recorrer", conta o gerente comercial da Brasil Wind, Wilmar Pereira.
Financiamento
Outro ponto que ainda precisa ser melhorado para viabilizar a micro e a minigeração distribuída no País é o financiamento aos projetos, que, aos poucos, está avançando.
"Estamos resolvendo essas duas questões (tributária e de financiamento). Já estamos em negociação com o Banco do Nordeste (BNB). Além disso, algumas mudanças já ocorreram no FNE Verde, operacionalizado pelo BNB, que melhoraram o financiamento para o setor. Antes, a partir de R$ 200 mil tinha que ter projeto e (o pedido de crédito) levava 45 dias para ser a analisado. Hoje, já não é preciso (ter o projeto) e leva 15 dias para avaliar. Estamos avançando. Acredito que, até o fim do ano, essas questões serão resolvidas", afirma Wilmar Pereira.
Para ele, a solução desses dois pontos será crucial para fomentar a adesão à micro e á minigeração distribuída, que, embora ainda desperte muitas dúvidas nos consumidores, já tem atraído a atenção de muitas pessoas e possui um grande potencial de crescimento.
"Existe um grande interesse do mercado, desde que haja viabilidade. O cliente está esperando que o mercado se abra", avalia o especialista.
Dháfine Mazza
Repórter
Benefícios
"... As pessoas precisam entender que é viável, que não é caro, que é a garantia de abastecimento".
Fernando Ximenes
Cientista industrial
Fonte: Diário do Nordeste
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