Projeto Ouro Branco leva arte para agricultores em Choró
Casas rurais estão sendo pintadas com criações do artista Derlon Almeida, para tematizar exposição fotográfica
Tênis feito com algodão agroecológico cultivado pelo agricultores cearenses que terão em suas paredes painéis pintados pelo artista pernambucano
A iniciativa faz parte do projeto Ouro Branco, criado pela curadoria da Vert, uma marca franco-brasileira de tênis, a qual produz seus calçados com o algodão fornecido por eles, dentro das regras do comércio justo.
A Vert e o artista plástico formaram uma parceria. Caberá a Derlon representar artisticamente a história das 72 famílias que formam as comunidades agroecológicas de Riacho do Meio. Conforme a curadoria da Vert, no foco do artista estarão algumas das cenas chaves da luta sertaneja pela dignidade, desde a conquista da terra, até o aprendizado das técnicas da agroecologia, passando pela construção das primeiras moradias, das cacimbas para facilitar o acesso à água ou das primeiras escolas para assegurar a educação das novas gerações.
Dessa forma, o artista pintará as casas dos agricultores estampando essa história, de sucesso, com imagens da vida cotidiana, como o transporte de água e roupas na cabeça no trajeto às cacimbas, a celebração de seus santos ou o trabalho da terra.
Derlon fica até esta sexta-feira em Choró, quando finaliza seus trabalhos. A obra terá nova dimensão em maio, com o lançamento de uma coleção de tênis da Vert, assinada por ele, e a realização de uma mostra fotográfica internacional.
As pinturas do artista plástico, retratando a prática da agroecologia e a história de vida dos agricultores do algodão serão capturadas pela objetiva do fotógrafo argentino Pablo Saborido.
A documentação fotográfica, da residência artística de Derlon no Sertão, será a base para a mostra Ouro Branco, realizada com o uso da técnica do lambe-lambe. A exposição está prevista para maio e junho nas ruas de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e também na Europa, em Paris.
Derlon Almeida é conhecido internacionalmente por estampar sua arte na Europa, principalmente na França, Portugal e Holanda, inclusive nas fachadas de enormes prédios. Uma de suas obras mais significantes foi um prédio de 10 andares, em Amsterdam, na Holanda.
Seu particular estilo, com sua característica conexão entre xilogravura e "street art", interessou à Vert por conta do forte envolvimento da marca em comunidades rurais do sertão nordestino, onde compra o algodão agroecológico, e onde a cultura da xilogravura popular e do cordel está arraigada.
O artista tem trabalhado de maneira colaborativa com os agricultores para contar esta história de conquista, resistência e esperança.
Para os fundadores da Vert, Sébastien Kopp e François-Ghislain Morillion, os traços do Derlon são marcantes. "Como nosso tênis, sua arte leva a cultura popular brasileira para as ruas do mundo. Conhecemos seu trabalho em Marseille em 2009 e nos tornamos amigos. Ficou marcado de fazer uma parceria quando lançar a Vert no Brasil. Agora é a hora" acrescentaram.
Ainda conforme os fundadores, a marca lida diretamente com as associações de produtores na compra do algodão, reduzindo os intermediários, conseguindo assim aumentar a remuneração dos agricultores. Em 2013, o valor pago pela pluma de algodão foi acordado em R$ 7,39/kg. O preço é 65% superior ao preço de mercado.
Atualmente, cerca de 700 famílias estão envolvidas no cultivo do algodão utilizado pela fábrica. Para cada par de tênis produzido, uma média de R$ 1,1 é pago aos produtores de algodão.
Além do preço mais justo, a Vert compromete-se por meio de contratos de compra de longo prazo, e com preço garantido para a safra. Este sistema opõe-se à atual volatilidade das matérias primas no mundo (algodão, leite, cereais etc.), a qual acaba prejudicando os pequenos produtores nas comunidades.
Sem agrotóxicos
Com design parisiense, fabricação e matéria-prima 100% brasileira, os tênis da marca franco-brasileira possuem lona de algodão orgânico, cultivado por agricultores familiares do Nordeste, sem uso de agrotóxicos. Palmilha e sola são fabricadas com borracha selvagem da Amazônia, comprada de seringueiros do Acre dentro das regras do comércio justo.
O objetivo da Vert é criar calçados de design clean e urbano, buscando sempre um impacto positivo tanto na parte social como ambiental.
A agroecologia consiste em uma prática de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Oposta à monocultura intensiva, busca a segurança alimentar da família e a preservação do solo. O algodão é cultivado em consórcio com outras lavouras como o milho, feijão e gergelim, sem agrotóxicos, adubos químicos ou transgêni-cos.
Essa tecnologia foi instaurada no semiárido nordestino pelos parceiros institucionais da marca: o Projeto Dom Helder Câmara, e Embrapa Algodão e o Escritório de Planejamento e Assessoria Rural (Esplar).
Alex Pimentel
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste
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